terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O brasileiro não é tão diferente assim

Há muito tempo que eu costumo dizer que essa coisa de falar que o mal do Brasil é o brasileiro é besteira de gente manipulada. É bem verdade que se compararmos o brasileiro com os franceses e os argentinos, por exemplo, perdemos feio em relação a reatividade e organização (principalmente organização). Mas isso não faz com que sejamos esse saco de batatas como gostam de dizer por aí. Mas há uma pequena diferença no tratamento dado pelos nossos "jornalistas". Aqui, quando há um setor da sociedade insatisfeito, a mídia logo dá um jeito de tirar a razão dos manifestantes, chamando de vândalos, arruaceiros, criminosos, bandidos, e o que mais pintar na criatividade do editor-chefe da publicação. E é por essas e outras que frequentemente estes setores reclamantes são marginalizados e hostilizados pela sociedade. Vejam as greves, por exemplo, é só começar a greve que a categoria vira um bando de vagabundos preguiçosos reclamando de barriga cheia. Qualquer setor que faz uma passeata já é alvo de "cidadãos de bem" (eu ainda vou fazer um post sobre o terrível "cidadão de bem") reclamando que eles estão atrapalhando o trânsito, que estão prejudicando quem não tem nada a ver com isso, e mais blablablá.

É chover no molhado dizer que a mídia manipula a opinião pública, e disso qualquer um que queira usar a cabeça sabe há muito tempo. Tirar a credibilidade de quem está certo e inocentar quem está errado parece ser o trabalho principal desta categoria de profissionais que se acha tão importante, necessária, e superior as demais (Bóris Casoy que o diga). Mas isso causa uma consequência mais grave: Independente das causas ou categorias defendidas, os manifestantes, diante deste cenário anti-manifestação (num dos mais "democráticos" países do mundo!) se vêem sozinhos e fragilizados, o que prejudica muito a organização e a força que seus respectivos movimentos precisam para prosperar. E sem apoio popular, qualquer causa se torna muito mais árdua de se conquistar. É aí que mora o meu ódio e desprezo pelas grandes mídias, que servem apenas a seus próprios interesses, e a quem serve a seus próprios interesses.

Então, através do maior meio de comunicação verdadeiramente democrático e representativo que a humanidade já conheceu, é que deixo minha sugestão: Boicotem os grandes meios de comunicação privados, como Globo, Veja, UOL, Folha, iG, etc. Na internet, em blogs, redes sociais e portais de notícias independentes, podemos obter informações muito mais completas, podemos compará-las, e nos tornarmos cidadãos muito mais críticos e mais úteis uns para os outros. Então, desconfiem daquilo que lhes é empurrado goela abaixo, verifiquem a consistência de tudo que lhes é dito (o que inclui o que é dito neste blog), e se tornem mais inteligentes. Um mundo melhor depende disso mais do que de qualquer outra coisa.

3 comentários:

  1. É bom saber que, na minha família, alguém é capaz de por em palavras a maioria das coisas que penso.

    Ótimo blog, Victor. É clichê, mas continue assim.

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  2. Caro Victor,
    você está certo quanto à alienação da população, em que o cidadão comum pode ser contra uma passeata ou um projeto de lei que representa alguns dos seus interesses. Onde você erra, feio, é dizendo que os grandes veículos induzem o povo a isto.
    O próprio cidadão comum, por egoísmo ou simples burrice, se deixa levar em algumas "causas". A propaganda lesboveadista pode explicar os números do Orgulho Gay, mas não tanto os números de u'a Marcha para Jesus. Também não tanto os números de qualquer evento pelas mulheres.
    Por outro lado, temos também os próprios movimentos mal vistos como os principais responsáveis pela própria má fama. Se você viu mesmo algo publicado em grandes veículos mostrando operadores do transporte coletivo como quem faz os usuários de reféns para aumentar o próprio salário, funcionários da saúde pública como quem faz os usuários de reféns para aumentar o próprio salário, professores como funcionários públicos frustrados e medíocres cuja única preocupação é aumentar o próprio salário, e assim por diante, pode acreditar: é o que você viu ou pior.
    E quanto ao trocar os grandes veículos por blogues, nem os grandes veículos são tão inaproveitáveis nem os blogues são tão bons, ou melhor, os blogues bons não fazem o sucesso que merecem. Veja em http://pt-br.wordpress.com/#!/fresh/ as postagens mais acessadas no WordPress. E falando em redes sociais, veja a desgraça que é achar um perfil aproveitável no Facebook, como o seu, o meu ou de nossas amigas Imaculada e Abigail.
    Não é por acaso que programas instrutivos na televisão costumam ir para a madrugada, ou que metade dos jornais de R$ 0,25 seja sobre esportes e celebridades e quase a outra metade seja de notícias criminais.
    Cordialmente,
    Walter

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  3. Walter, respeito sua opinião, mas mantenho a minha.
    Pra começar, cidadão comum somos todos nós. Podemos ser mais informados que outros em relação a temas mais relevantes, mas nunca seremos suficientemente bem informados (e formados) em relação a tudo, o que necessariamente quer dizer que todos somos alienados em algum assunto. E onde falta informação, há espaço para manipulação. Então, não tiro a culpa de quem se permitiu manipular, mas uma vez manipulado, é necessário mais do que força de vontade pra mudar, é preciso uma oportunidade e um cenário propício para a mudança. E para cada cenário desses, há centenas de outros onde mais pessoas serão manipuladas em relação a diferentes aspectos. E a culpa maior não é de quem se permitiu manipular, mas sim de quem manipulou. Assim como existe culpa no playboy que cheira seu pó, mas muito mais culpa em quem lhe vende, e ainda mais nos governantes que podem tomar medidas que resolvem o problema, mas não o fazem. Então, a maior culpada pela mediocridade da população é de quem produz a mediocridade. Nesse caso, a grande mídia.
    E, com todo o respeito (e lhe tenho muito), quando você culpa o próprio movimento pela reputação que tem, você mostra como essa manipulação pode ser eficiente. Claro que existem maus funcionários, como existem pessoas atrapalhando em todos os setores, mas permitir que estes moldem a imagem de toda uma categoria é que realmente me parece um erro feio. Claro que existem profissionais acomodados e medíocres em qualquer ramo, mas se fossem tão acomodados assim, não estariam protestando.
    Finalizando, não disse que não há nada que presta na grande mídia, nem que qualquer blog é melhor que ela. Claro que há coisas aproveitáveis nessas publicações citadas. Mas, teoricamente falando, existem coisas aproveitáveis no esgoto das nossas cidades. O que não quer dizer que é uma boa idéia se esgueirar por entre as galerias de dejetos para encontrar coisas que são facilmente encontráveis em locais bem mais agradáveis. Mas é preciso procurar um pouco, garimpar, e principalmente questionar. Esse é o caminho que leva ao senso crítico e a verdade.
    Um abraço!

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